Entrevista com o Eng. Paulo Machado
Chamou-me a atenção, na entrevista sobre a vinha e o vinho, que o jornal da Escola Profissional do Pico – O Leme, publicou no seu número de março, com o engenheiro Paulo Machado, o enfoque que o mesmo pretendeu dar à dicotomia (das práticas e tecnologias na vinha ou na adega): respeito pelos recursos naturais / minimizar o impacto negativo sobre os solos (…) e saúde humana, no pressuposto da viabilidade económica.
Não sei até que ponto se pode ou deve falar sobre várias vertentes nesta área da vinha e do vinho, na nossa ilha (?), designadamente:
- o cultivo tradicional da vinha em currais com as castas mais pobres (isabella, mil e vinte, etc);
- a cultura intensiva em terrenos “arroteados e aramados”, com castas nobres (europeias);
- de permeio ficará aquela que nos deu fama – o verdelho – cultivada nas zonas de currais: Engrade (Piedade) – Lajes do Pico; Baía de Canas (Prainha) e Lajido (Santa Luzia) – S. Roque do Pico; e Lagido da Creação Velha – Madalena.
Area de Vinha abandona à Beira-mar - Castelete - Ponta da Ilha Zona de Paisagem Protegida da Cultura da Vinha - Piedade -Lajes do Pico
Certo é que as novas técnicas de produzir uva vínica, implementadas na nossa ilha, em nada contribuíram para o enriquecimento da nossa paisagem tradicional da cultura da vinha, mas também é verdade que temos de evoluir e nesse campo os resultados da fortíssima ajuda financeira europeia, na dita “reconversão da vinha”, parece ser compensadora e até f oi para além das expetativas, segundo muitos, mas já no dizer de outros – e por vários fatores – ainda não se teria encontrado a verdadeira e eficaz fórmula para compatibilizar a manutenção dos currais de vinha com a reconversão da “vinha de cheiro”, já que esta continua a ser a de maior produção, embora uma significativa percentagem da mesma não entre na estatística “oficial”. Dizem-nos que é assim. Será verdade?
Ora mas acima de tudo queremos relevar e louvar o apelo do engenheiro Paulo Machado, para que muitas das pessoas, que, infelizmente, caíram na terrível “malha do desemprego”, possam encontrar na “viticultura uma oportunidade para relançar as suas vidas, aproveitando os excelentes incentivos que estão em vigor para reabilitação de vinhas abandonadas”. E continua a afirmar a propósito o entrevistado: “O facto de existir uma enorme área de vinha abandonada com grande potencial vitícola, aliado à existência de algumas unidades de transformação bem implantadas no mercado (…) pode ajudar a recuperar a importância do sector vitivinícola outrora alcançada (…) os grandes desafios passam pelo devido acompanhamento técnico dos novos viticultores (…) criar canais de escoamento do vinho (…) aproveitar ao máximo a classificação atribuída pela UNESCO de Património da Humanidade (…); como maiores perigos, temo que o amadorismo da maioria dos viticultores seja incompatível com as exigências da viticultura moderna (…)”. (fim de citação)
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Zona de vinha abandonada - Baía de Canas - Prainha
Concordando com a generalidade das opiniões do engenheiro Paulo Machado, nosso ilustre e jovem conterrâneo, - quem seria eu para contrapor quaisquer argumentos técnicos – deixo no entanto a pergunta: Essa enorme área de vinha abandonada (que bem conheço: Baía de Canas, Engrade/Ponta da Ilha e outras) seria recuperada também, “arroteando os currais de vinha que, como todos bem sabemos, continuam a resistir escondidos (há anos) pelas faias e pelos infestantes incensos?
Como mera curiosidade, aqui deixo um excerto dum post da net, de Agosto de 2008 - http://confrariadelvino.blogspot.pt/2008/08/variedade-de-uva-isabel.html - sobre o cultivo da uva Isabela nos estados brasileiros de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, terras para onde partiram há quase três séculos, centenas de famílias açorianas de todas as ilhas:
“Foi introduzida no Rio Grande do Sul entre 1839 e 1842 por Thomas Maister, através da Ilha dos Marinheiros. A quantidade de uva Isabel vinificada na Serra Gaúcha variou de 261.312t na safra de 1985 a 132.328t na de 1991. Os principais destinos da uva Isabel na Serra Gaúcha são a produção de vinho tinto comum e o suco de uva. (…) É a cultivar mais plantada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, representando aproximadamente 45% de toda a uva produzida nessa região. Apresenta boa performance nos climas tropicais do Brasil, com resultados positivos comprovados no Noroeste de São Paulo, no Triângulo Mineiro, em Goiás e no Mato Grosso. Resultados mais recentes, ainda não conclusivos, indicam que esta cultivar poderá ser também uma alternativa para a produção de vinho de mesa e suco também no Vale do São Francisco. O vinho tem cor vermelha viva; o aroma é intenso e com acentuada tipicidade varietal; a análise sensorial evidencia que geralmente falta ao vinho equilíbrio e maciez.” (fim de citação)
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